julho 01, 2016

4ª reunião de 2016 - Ilíada e Paidéia

- Em "A Questão Homérica", sua introdução à Ilíada (Homero), Carlos Alberto Nunes afirma que esta obra é uma epopéia genuína, com enraizamento histórico e valores e especificamente gregos, enquanto a Odisséia é como um romance, por tratar de uma situação universal e generalizável (a longa jornada de volta para casa do herói). Odisseu é um herói mais racional e prudente do que Aquiles. O enredo da Odisséia é mais transponível para outras épocas e culturas. Será, contudo, que esse critério da capacidade de generalização basta para qualificar a Odisséia como "romance"?
- Paidéia (Werner Jaeger): autor busca evitar anacronismo; ver paidéia com olhos gregos. O homem como idéia, forma perfeita. Problematização pelos gregos da própria idéia de formação. O problema é que Jaeger coloca cultura grega num pedestal, superior às outras. Questão essencialista: a "aptidão inata" dos gregos. Jaeger toma posição com base em algo naturalizante. Além disso, desliza entre abordagem historicizante e prescritiva/edificante, ao reivindicar perenidade dos valores gregos (Paidéia, pp. 17-18). 
- Aproximação de Jaeger e Voegelin (que defende "restauração" da cultura clássica): valores gregos são tomados como perpétuos; risco de essencialização e idealização. Por outro lado, autores como Jaeger oferecem contraponto ao cientificismo e à especialização, que empobrecem o espírito.
- Ilíada: empatia do poeta pelos troianos. (Ibidem, p. 71) Ex.: o fato de esta epopéia terminar com o funeral de Heitor. 
- O poeta como educador; "intérprete e criador da tradição" (p. 72).
- Cegueira tanto de Agamenon quanto de Aquiles; arrependimento deste por ter persistido no rancor e na cólera. (p. 75) A Ilíada não é uma "aquiléia"; primeiro, porque o desfecho não é a morte de Aquiles, pois a obra trata apenas de um episódio da guerra, e não do conflito inteiro; segundo, porque há um momento em que Aquiles recua e outros heróis podem aparecer.
- Romance polifônico tende à épica; destino de um povo. Ex.: Os Irmãos Karamázov (Dostoiévski). O romance "tradicional" se concentra no herói individual (vide Lukács, A Teoria do Romance, trecho sobre Dostoiévski).
- Aspiração à totalidade, à universalidade na obra de Homero. Pensamento "filosófico relativamo à natureza humana. Contemplar o particular à luz do geral. Premissas universais, exemplos míticos "julgados tipos e ideais imperativos" (p. 76).

outubro 06, 2011

O Pessimismo Otimista do "Cândido" de Voltaire

Mini-curso sobre "Cândido ou O Otimismo" (Voltaire), realizado em 9 de Setembro no CEM 02 Gama, em parceria com o Fórum Permanente de Estudantes (CESPE).

1 – Biografia (fonte: www.consciencia.org)

François Marie Arouet (1694-1778) nasceu em Paris. Seu pai era tabelião e possuía pequena fortuna. Sua mãe tinha origem aristocrática. Ela morreu depois do parto. Tinha um irmão mais velho, Arnaud, que entrou para um culto herético jansenista.

- François revelou talento literário e sensibilidade poética logo na infância. Ele comprou livros com a herança de uma senhora que havia visto nele futuro cultural. Com esses livros, e com a tutela de um abade, começou sua educação. O abade lhe mostrou o ceticismo e as orações religiosas.

- Com o intuito de tornar o filho advogado do rei, coloca-o num colégio jesuíta. Os jesuítas ensinaram a Voltaire a dialética, arte de dialogar progressivamente, para provar as coisas. Ele discutia teologia com os professores, que reconheciam Voltaire como um “rapaz de talento mas patife notável”.

- Seu padrinho o introduziu numa vida desregrada. Conheceu escritores, poetas e cortesãos. Ficava na rua até tarde, divertindo-se com fanfarrões epicuristas e voluptuosos.

- Quando François termina o colégio, seu pai arranja para que se torne pajém do marquês de Châteauneut. Parte em missão diplomática com esse embaixador para Haya, Holanda. Logo que chega lá encontra uma moça: Olympe Runoyer, a Pimpette. François teve encontros amorosos com a moça e queria que ela fosse morar com ele na França. O caso foi descoberto. Mandam-o de volta para a casa de seu pai.

- François começa a ficar conhecido por ser brilhante, imprudente, malicioso e turbulento. É um espírito versátil, dono de uma cultura notável, que o ajudava a ser fecundo. Em 1715 escreve a peça Édipo e o poema Henríada, um épico sobre Henrique IV. Sua fama aumenta e todas as coisas espirituosas e maliciosas são atribuídas a ele, inclusive algumas anedotas, contra o regente que governava, duque de Órleans As anedotas falavam que o regente conspirava para usurpar o trono. Em 1717, o regente manda-o para a Bastilha, a prisão parisiense. Na Bastilha, onde ficou um ano preso, adota o nome de Voltaire, como forma de se separar do pai (e, ironicamente, escreve uma peça chamada Édipo).

- Novamente foi preso por um curto período (briga com um duque); preferiu o exílio na Inglaterra. Nos três anos que esteve em Londres, conseguiu desenvolver sua intelectualidade. Se relaciona com os poetas Young e Pope; com o escritor Swift e o filósofo empirista Berkeley. Admira-se com a liberdade de expressão dos ingleses, que escrevem o que querem. A filosofia inglesa, que vinha desde o início da modernidade, com Bacon, Hobbes e Locke e os deístas, o agradou. Estuda a fundo a obra de Newton, e mais tarde propaga suas idéias na França, com as Cartas filosóficas, de 1734. Voltaire absorve rapidamente a cultura e a ciência inglesa, e admira a tolerância religiosa.

- A correspondência de Voltaire é numerosa. Não só as cartas sobre os ingleses, mas também com inúmeras personalidades da época, como Frederico, o Grande, da Prússia, de quem foi muito amigo.

- Aos poucos, Voltaire volta a ter contato com Paris. Graças à proteção de madame Poiapadeur, vira historiógrafo real. Ele se torna candidato à Academia Francesa. Em 1746, é eleito e faz um belo discurso de posse. Depois de quinze anos, sua relação com a marquesa torna-se difícil. Em 1748, a marquesa começa um caso com Saint Lambert; ela morreu no ano seguinte.

- Nas suas obras históricas (p.ex., A Era de Luís XIV) Voltaire não dedicou um enorme espaço à Judéia e ao cristianismo, e relatou com imparcialidade a gigantesca cultura oriental. Sob nova perspectiva, descobriu-se nesse mundo, e os dogmas europeus puderam ser questionados.

- Os enciclopedistas do Iluminismo Francês, encabeçados por Diderot, pedem sua contribuição. Escreve alguns artigos para a Enciclopédia. Ocorre então uma ruptura entre Voltaire e Diderot, por desavença de opiniões. Voltaire ironiza a defesa do estado de natureza de Rousseau (o famoso bom selvagem) dizendo que o que difere o homem dos animais é a educação e a cultura.

- Em 1755 soube do terremoto em Lisboa, onde morreram umas trinta mil pessoas. Ficou revoltado ao saber que os franceses consideravam aquilo castigo divino.

- - “Cândido” foi escrito em três dias, em 1758. Conta com otimismo pessimista a história de um simples rapaz, filho de um barão. É reconhecido como a obra-prima de Voltaire, sendo incluída no Cânone Ocidental por seus ensinamentos substanciais.

- O “Dicionário filosófico” foi publicado em 1764. Foi o primeiro livro de bolso da história e alcançou muito sucesso. As idéias nele contidas são críticas ao Estado e à religião. Suas idéias foram propagadas na Revolução Francesa e refletiam os ideais desta, durante a qual foi muito lembrado.

- Como viajou muito, não era patriótico. Não confiava no povo e não gostava da ignorância, que estava muito difundida. Levantava dúvidas, muitas de suas obras são repletas de perguntas. Numa carta a Rousseau, no qual comenta o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade, disse que o livro de Rousseau fazia surtir o desejo de voltar a ser animal, e andar de quatro patas, mas ele já havia abandonado esse hábito há sessenta anos.

- Aos 83 anos, viajou para Paris, para rever a cidade-luz, depois de tanto tempo. Teve calorosa recepção. Assistiu a uma peça sua encenada. Foi até a Academia de Letras de Paris, onde foi homenageado. Morreu em 1778 e toda a população parisiense saiu na rua, para participar do cortejo fúnebre.

- Idéias filosóficas: Voltaire sempre lutou contra o preconceito e as superstições, preferindo em lugar delas a razão e a cultura elucidativa. Para ele, preconceito é uma opinião desprovida de julgamento. Podem ser:

a) dos sentidos – ex.: o sol é pequeno, pois o vejo assim.

b) físicos – “a Terra está imóvel”.

c) históricos – p.ex., a lenda da fundação de Roma, por Remo e Rômulo.

d) religiosos – por exemplo: Maomé viajou nos céus.

Voltaire tem um tratamento racional para desvendar os mistérios da consciência humana . Dá a entender que Descartes estava errado com seu inatismo, e prefere a teoria de Locke, de que tudo deriva das sensações. A sensação é tão importante quanto o pensamento, e o mundo é uma sensação contínua. Ele faz paralelos com a cultura grega e romana, nos verbetes do Dicionário Filosófico.

As crenças têm um lado subjetivo muito forte. Esforçando-nos para ver a crença, ela acabará por existir, para nós. A moral vem de Deus, como a luz. As superstições são trevas. Para Voltaire a metafísica é uma quimera. Voltaire fala que o Ser Supremo, cuja crença veio depois do politeísmo, é válido. Disso resulta num paradoxo, pois Deus existe e não podemos conhecer os mistérios do universo. Voltaire aceita os argumentos para a existência de Deus de São Tomás de Aquino. É a causa primeira de tudo, Inteligência suprema. Ao contrário do Deus judaico-cristão, O Deus de Voltaire fez o mundo em tempos remotos e depois o abandonou ao próprio destino; por isso ele é deísta. O materialismo é preferencial à teologia. Voltaire via Deus na harmonia inteligente entre as coisas, mas negava o livre arbítrio e a providência.

2 – “Cândido ou O Otimismo”

- Este romance é sobre a história de um jovem, Cândido, que vive num castelo na Westfália, onde tem uma boa vida. Recebe ensinamentos do otimismo de Leibniz por meio de seu mentor, Pangloss, cujo mantra é: "tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis”. Porém, depois que Cândido e Cunegunda, a filha do barão, são flagrados se beijando (aparentemente fazendo um teste empírico do conceito de “razão suficiente”), ele é expulso a pontapés do “paraíso terrestre”.

- Pouco depois, exército búlgaro invade o castelo onde Cândido mora e o transforma em soldado. Entre morrer e ser açoitado, Cândido prefere o açoite. O jovem agüenta as chibatadas de todo o regimento durante um tempo. Os pais de Cunegunda são assassinados, ela é violentada e o castelo é destruído.

- O rapaz consegue fugir para Lisboa, e no barco que o leva até lá, encontra Pangloss. Em Lisboa ocorre o terremoto. A Inquisição durou mais tempo em Portugal, que se manteve católico e não aderiu ao protestantismo. Cândido, fugindo dela, vai para o Paraguai. Cândido acha ouro no interior virgem (El Dourado, uma terra paradisíaca e cheia de riquezas minerais e hábitos civilizados, embora modestos), mas é enganado e fica sem quase nada.

- Vai para Bordeaux com o que sobrou, e depois de ser novamente enganado, passa pela Inglaterra e finalmente chega a Veneza, pois havia combinado com Cacambo que ele traria Cunegunda para Cândido nesta cidade. Porém, ele diz que a amada do protagonista está na Turquia. Todos os personagens encontrados ao longo da história (o pessimista Martinho, a prostituta Paquette, a velha, Cacambo etc.) começam a morar juntos, mas só vivem em paz depois que começam a trabalhar. Daí a lição de moral: “é preciso cultivar o jardim”.

- “Se esse é o melhor dos mundos possíveis, por que existem tantos males e injurias?” Apesar disso, o mal, para Voltaire, não é metafísico, mas sim social. Deve-se superá-lo com trabalho e com a razão. O homem deve estar sempre ocupado, para não ficar doente e morrer.

- Cândido é caracterizada por seu tom sarcástico, bem como pelo seu enredo errático, fantástico e veloz. Assim como os filósofos do tempo de Voltaire expuseram o problema do mal, o mesmo acontece com Cândido neste conto, embora de forma mais direta e ironicamente: o autor ridiculariza a religião, os teólogos, os governos, o exército, as filosofias e os filósofos através de alegorias; o alvo principal é Leibniz e seu otimismo.

- “Existe portanto o bem”, diz Cândido, ao que Martinho responde: “Mas não o conheço.” (p. 83)

- Trecho importante: no capítulo XXV, ao conhecer um senhor veneziano, Cândido se depara com várias críticas a obras que considerava clássicas (Homero, Virgílio, Cícero, Milton...).

3 – Revisão Bibliográfica

- Nildo Viana: “Cândido ou o Otimismo, obra literária de Voltaire, para ser compreendida deve ser analisada no contexto social e histórico no qual ela surgiu. A percepção deste contexto demonstra que tal obra reflete a auto-imagem do iluminismo, sendo que este busca se contrapor ao mundo feudal e isto explica a contraposição entre luzes e trevas, entre a ideologia da classe burguesa ascendente e a ideologia da classe senhorial feudal decadente. Em síntese, podemos dizer que Cândido ou o Otimismo não é uma crítica ao otimismo, mas uma crítica ao otimismo da nobreza. No seu lugar instaura o otimismo das luzes. O objetivo de Voltaire é contrapor o século das luzes à idade das trevas e demonstrar a superioridade do primeiro. E nós, herdeiros do iluminismo, continuamos otimistas e vivendo no ‘melhor dos mundos possíveis’”.

- John Gray: “mais do que qualquer outro filósofo europeu, ele exemplifica e e esclarece as limitações e contradições do Iluminismo”. Voltaire pensava que “apenas o egoísmo e os preconceitos que impediam os seres humanos de se entrarem em acordo quanto ao bem”. Porém, “Voltaire tinha de desacreditar obrigatoriamente o Cristianismo. (…) Para Voltaire, a sociedade moderna deveria obrigatoriamente secular. As crenças tradicionais estão fadadas à ruína e, Voltaire estava convencido, serão substituídos pela atitude científica. (…) Era axiomático que a autoridade da Igreja cedesse à da Ciência”.


(Fonte: Quebrando o Encanto do Neo-Ateísmo)

- Will Durant diz que os heróis dos romances de Voltaire são idéias, os vilões são superstições e os acontecimentos são pensamentos.

- Intertextualidades: Dom Quixote (Cervantes) e o otimismo, As Viagens de Gulliver (Swift) e os mundos pitorescos – e a mensagem amarga – e o deboche de Elogio da Loucura (Erasmo de Roterdã).

5 – Influências

- Voltaire influenciou diversos autores, notavelmente o “1984” de Orwell, o “Admirável Mundo Novo” de Huxley e o “pessimismo otimista” de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Quincas Borba (1891) de Machado de Assis.

- Bildungsroman: romance de formação, gênero literário muito difundido na Alemanha (Goethe, Thomas Mann, Hermann Hesse...), que às vezes tem um tom picaresco, como forma de ironia às ilusões e ingenuidades do personagem principal.

- Nietzsche e a crítica virulenta à Modernidade, encarnada no Iluminismo, e à religião cristã.

- Liberalismo econômico: a mensagem final do livro é um elogio ao trabalho e à austeridade.

6 – Questões no PAS

Figura I – Goya. Com razão ou sem ela.

Figura II – Goya. O mesmo.

Nada era tão belo, tão ágil, tão brilhante, tão bem organizado quanto os dois exércitos. As trombetas, os pífaros, os oboés, os tambores, os canhões formavam uma harmonia jamais obtida no inferno. Os canhões derrubaram, de início, cerca de seis mil homens de cada lado. Em seguida, a artilharia retirou do melhor dos mundos cerca de nove a dez mil patifes que infestavam sua superfície. A baioneta foi igualmente a razão suficiente da morte de alguns milhares de homens. A soma final bem que poderia chegar a algo próximo de umas trinta mil almas. Cândido, que tremia como um filósofo, se escondeu da melhor forma que lhe foi possível durante a carnificina heroica.

Voltaire. Cândido ou o otimismo. R. Gomes (Trad.).

Porto Alegre: L&PM Pocket, 1998, p. 13.

Imagens literárias e imagens visuais podem ser instrumentos expressivos e simbólicos de crítica e questionamento. As gravuras de Goya, figuras I e II, apresentam títulos que fazem referência um ao outro: Com razão ou sem ela e O mesmo. Naquela, os soldados franceses fuzilam civis desarmados; nesta, os civis matam soldados. Tendo como referência o fragmento de texto extraído da obra Cândido ou o otimismo, de Voltaire, e a representação das gravuras de Goya, julgue os itens de 11 a 15.

11 Voltaire utiliza elementos textuais para apresentar, sem traços de ironia, a guerra como um espetáculo heroico e grandioso, encontrando para a guerra justificativa moral no fato de suas vítimas serem “patifes”. (E)

12 No trecho apresentado, verifica-se, pelo modo como o narrador contabiliza os mortos, que, na guerra, os seres humanos não são tratados como indivíduos. (C)

13 Uma ideia secundária do texto é a de que os filósofos são coniventes com as guerras, o que contrasta com a perspectiva, também presente no texto, de que vivemos no melhor dos mundos. (E)

14 Voltaire critica o tipo de filósofo que, tal como o personagem Cândido, permanece impotente e acrítico diante dos males do mundo. (C)

15 A analogia entre música e guerra utilizada por Voltaire opõe-se à abordagem suscitada nas gravuras de Goya apresentadas e nos títulos dessas obras. (E)

— Sei também, disse Cândido, que é necessário cultivar nosso jardim.

— Está certo, disse Pangloss, pois, quando o homem foi colocado no jardim do Éden, aí foi posto ut operaretur eum, para que trabalhasse, o que prova que o homem não foi feito para o repouso.

— Trabalhemos sem raciocinar, disse Martinho. É o único meio de tornar a vida suportável.

Toda a pequena sociedade acatou este louvável propósito e cada um passou a exercer seus talentos.

Idem, Ibidem, p. 131-132.

Considerando o fragmento de texto acima e os múltiplos aspectos que ele suscita, faça o que se pede no item seguinte, que é do tipo D.

16 A expressão “é necessário cultivar nosso jardim” refere-se a um modo de viver proposto por Cândido no diálogo com Pangloss e Martinho, depois de terem todos passado por inúmeras peripécias no que Leibniz definia como “o melhor dos mundos”, para expressar, com sua metafísica, que Deus fez deste mundo o melhor dos mundos possíveis. A citação de Voltaire é irônica e, por meio dela, o autor contrapõe o fazer metafísico dos filósofos ao modo de viver em que se pratica o que, no texto, é referido como “cultivar nosso jardim”. Tendo como referência esse contexto, explicite o sentido da expressão “cultivar nosso jardim”, utilizada por Cândido.


agosto 21, 2011

O Inferno de Dante

4ª reunião do grupo de Estudos Humanistas, realizada em 8 de Julho.

"A Divina Comédia" (Dante Alighieri), parte 1: Inferno

1. Biografia
- Dante Alighieri nasceu em Florença, em maio de 1265. Viveu em uma época marcada pela rivalidade política dos Guelfos (divididos em duas alas: a Negra, os quais defendiam que o Papa continuasse exercendo o domínio sobre as cidades italianas, e a Branca, sendo esta última mais republicana, e era a ela que Dante e sua família se aliavam) e Gibelinos (partido imperial).
- A grande paixão da vida deste poeta foi Beatriz Portinari, casada com um rico banqueiro. Sua morte precoce, aos 24 anos, muito comoveu Dante, que a homenageou nos poemas de "Vida Nova" (1292).
- O conflito político entre guelfos e gibelinos se tornou paulatinamente uma disputa entre Brancos e Negros. Depois da vitória destes, em 1302, Dante foi condenado a pagar uma multa, a se exilar por 3 anos e a perder seus direitos de exercer qualquer cargo público. Como ele se recusou a cumprir tais punições, teve que fugir da cidade, pois foi condenado à morte caso voltasse a Florença. Desde então, morou em várias cidades, como Bologna, Pádua e Milão.
- Dante passou todo este período de exílio escrevendo, de forma descontínua (pois exerceu atividades diplomáticas), a "Comédia" ("Divina" foi um epíteto atribuído séculos depois, pelos renascentistas).

2. Inferno: os principais cantos
Canto I: "No meio do caminho em nossa vida, eu me encontrei por uma selva escura, porque a direita via era perdida." A "selva escura" é um símbolo para os desvios da condição humana. O poeta encontra Virgílio, após fugir de três feras: a onça (luxúria), o leão (soberba) e a loba (avareza).
Canto II: Dante ainda vacila e teme a jornada. Virgílio encoraja-o dizendo que foi Beatriz que lhe pediu para conduzir o poeta italiano.
Canto III: Na porta do Inferno há a seguine frase: "Deixai toda a esperança, vós que entrais." O sentido duro é justamente para extirpar qualquer vileza daqueles que ingressam.
Canto IV: Dante e Virgílio chegam ao círculo primeiro, o Limbo, no qual residem as almas boas que conheceram a fé cristã. Por lá são encontrados poetas antigos (como Horácio e Ovídio) e filósofos (p.ex., Heráclito, Sócrates, Platão e Diógenes). Virgílio diz: "vindos antes do cristanismo, não prestaram a Deus devido rito, e eu mesmo sou um deles neste abismo". Consciência dantesca da própria grandeza: "e fui sexto entre tantos sabedores".
Canto V: Círculo segundo, o dos luxuriosos, pecadores da carne. Semíramis, Nino e Páris habitam esta região do Inferno. Também são encontrados Francesca da Rimimi e Paolo Malatesta, que cometeram adultério. Paolo era irmão de Ginaciotto, do qual Francesca era esposa. "Amor que a amado algum perdoa, tomou-me a seu prazer assim tão forte, que como vês ainda se apregoa".
- No círculo terceiro há os gulosos. No quarto, os gulosos. Os iracundos e melancólicos habitam o quinto.
Canto X: os poetas chegam ao círculo sexto, no qual estão os hereges. Sobre os epicuristas: "No cemitério desta parte estão com Epicuro todos seus sequazes que a alma com o corpo morta dão". (aliás, tal posição era atribuída aos gibelinos)
- Círculo sétimo: violentos. Dentre eles, suicidas, dissipadores e violentos contra Deus.
Canto XV: Profecia a Dante: "Pois Fortuna tal honra te reserva, têm fomes as duas partes e ciúmes de ti; mas fique longe o bico à erva".
- Outros violentos: sodomitas, usurários, tiranos e blasfemadores.
- No círculo oitavo encontram-se os fraudulentos, classificados em sedutores, aduladores, simoníacos, adivinhos e feiticeiros, traficantes, hipócritas, ladrões, conselheiros de fraude, semeadores de escândalo e cisma e falsificadores de pessoas, moeda ou palavra.
Canto XIX: os simoníacos foram parar no Inferno por vender objetos supostamente sagrados. Dante faz uma invectiva contra papas (Nicolau III, por exemplo) que cometeram tal pecado: "Vós fizestes um Deus de ouro e de argento; que distinção do idólatra vos quadre, senão que adoro um, e vós um cento?"
Canto XXVI: Conselheiros de fraude. Virgílio e Dante encontram Ulisses, cuja última viagem e morte ocorreram na tentativa de atravessar o estreito de Gibraltar. Eis um final alternativo para o herói da "Odisséia": depois de partir da ilha de Circe, "nem doçura do filho, ou que se apieda do velho pai, nem o devido amor que Penélope então filha leda, venceram puderam dentro de mim o ardor que eu tive em me tornar do mundo experto, e dos humanos vícios e valor".
Canto XXVIII: Semeadores de escândalo e cisma, como Maomé: "entre as pernas a tripa pende e pula, a fressura se vê o triste saco que merda faz daquilo que se engula".
- No círculo nono, os traidores. Quatro regiões: Caína (traição aos parentes), Antenora (por motivos políticos), Tolomea (aos hóspedes) e Giudecca (aos benfeitores).
Canto XXXIV: Em Giudecca, os poetas encontram Lúcifer (anjo caído) congelado: "Imperador do reino em dor tamanha saía a meio peito ao gelo baço". Judas (traiu Jesus Cristo), Brutas e Cássio (conspiraram contra Júlio César) se fundem em uma criatura monstruosa: "De cada boca esfacelava a dente um pecador, ripando-lhe a medula, e a cada um de três punha dolente". Descida ao centro da Terra e saída do outro lado - do Inferno ao Purgatório.

3. Revisão Bibliográfica
- Vasco Graça Moura: há uma profusão enciclopédica de elementos no poema. O Inferno tem a obsessão arquetípica do labirinto. Quanto à métrica, predomina o hendecassílabo, que dá uma idéia de movimento e um caráter silogístico às rimas ("terza"). Há no Inferno dantesco um inquietante espetáculo do mal, o qual tem um confronto inevitável com os universos concentracionários do nosso tempo.
- Harold Bloom: a Divina Comédia é uma obra canônica, e "destrói a distinção entre escrita sagrada e secular". Quebra também a distinção católica entre imortalidade divina e fama humana. Dante, que se via como um profeta, deu à sua obra-prima o status de uma nova Escritura. Quando se lê Dante (ou Shakespeare), experimentam-se os limites da arte, e então descobre-se que os limites são ampliados ou rompidos.
No canto 26 do Inferno, Dante criou a mais original versão de Ulisses que temos, um Ulisses que não busca o lar e a esposa em Ítaca, mas deixa Circe para romper todos os laços e encontrar o desconhecido. Ulisses e Dante estão em relação dialética, porque este teme a profunda identidade entre ele mesmo como poeta e Ulisses como viajante transgressor.

Dica: visitem este site, o melhor em português sobre a "Divina Comédia".

Odisséia - dos relatos de Odisseu ao desfecho da epopéia

2ª e 3ª reuniões do grupo de Estudos Humanistas, realizadas em 10 de Maio e 3 de Junho. Clique aqui para ler o post sobre a primeira parte da "Odisséia".

Canto X: Éolo, o guardião dos ventos, ajuda Odisseu e sua frota; porém, inveja dos companheiros os leva a deixar ventos escaparem. Lestrigões destroem 11 dos 12 navios. Em seguida, chegam à ilha de Circe; a feiticeira transforma os companheiros de Odisseu em porcos. O herói, imunizado por Hermes, a convence a desfazer a magia. Circe pede a eles que passem pelo Hades.
Canto XI: No mundo de Hades, Odisseu ouve as profecias de Tirésis. Além disso, reencontra a mãe e Aquiles. Reflexão sobre a mortalidade da alma.
Canto XII: Após saírem do Hades, encontram as Sereias. O herói assume o compromisso de ouvi-las acorrentadas, enquanto seus companheiros terão os ouvidos tampados para não se deixarem encantar por elas. Ao passarem por Cila e Caribde, Odisseu não conta aos companheiros que sabia que 6 deles morreriam. Quando chegam à ilha dos bois de Hélio, tenta dissuadi-los de roubar e comer a carne destes animais sagrados, mas enquanto estava dormindo, os companheiros o fizeram. Como punição, Zeus joga um raio no navio, matando a todos, exceto Odisseu, que sobrevive e é acolhido por Calipso, com a qual morou durante 7 anos.
Canto XIII: Após encerrar o seu relato das aventuras pelas quais já passou, Odisseu finalmente deixa a ilha dos Feácios, e seguirá de volta a Ítaca. Atena vai aconselhá-lo, mas ele, astucioso, já tinha um plano, e chega à sua cidade natal dizendo que é cretense. A deusa fica contente, e lhe pede cautela no seu retorno. Para ajudá-lo, coloca-lhe um disfarce de mendigo velho.
Canto XIV: Odisseu, disfarçado, é recepciopnado pelo porqueiro Eumeu. Eles jantam, e o "mendigo" conta a falsa história de que é oriundo de Creta e conhece Odisseu. Eumeu acredita, mas depois da jura ("Morro se Odisseu não voltar ao palácio"), o porqueiro fica menos desconfiado.
Canto XV: Atena diz a Telêmaco por meio de um sonho que ele deve retornar a Ítaca. Após receber presentes de Menelau, acolhe o adivinho (e refugiado por causa de um assassinato) Argos. Eumeu conta ao "mendigo" sobre o seu passado: ele era herdeiro do trono da Síria, mas foi levado ainda criança por fenícios, graças à traição de sua criada, sendo vendido em Ítaca. Telêmaco desembarca em Ítaca e vai direito à casa de seu amigo Eumeu.
Canto XVI: O reencontro de Odisseu e Telêmaco.
Canto XVII: O "mendigo" vai à cidade.
Canto XVIII: Odisseu luta (e vence) Iro.
Canto XIX: Odisseu, ainda disfarçado, reencontra Penélope.
Canto XX: Começa a "última ceia" dos pretendentes de Penélope.
Canto XXI: O desafio do arco é vencido pelo "mendigo".
Canto XXII: O massacre dos pretendentes: após relevar a sua identidade, Odisseu e o filho Telêmaco derrotam os nobres q ao longo dos últimos anos.
Canto XXIII: Odisseu se revela a Penélope.
Canto XXIV: Agamêmnon conversa com pretendentes no Hades (até verso 205); Odisseu reencontra o pai.

- Pesquisas Individuais
1. A Paideia em Homero: o poema épico foi utilizado na formação da nobreza grega. Arethé (virtude): cavalheirismo; ideal de humanidade perante os comuns. Em sua obra, ética e estética (ou o Bom e o Belo) são inseparáveis. Segundo Harold Bloom, em "Onde encontrar a sabedoria?"), o Odisseu mendigo influenciou o Sócrates histórico. Platão se opôs a Homero em disputa pela Paideia. Platão afirmava a perfeição dos deuses e tinha uma obsessão pela idéia de salvação, enquanto Homero valorizava a glória. Homero declara o saber total (ao contrário do Sócrates platônico, que diz só saber sobre o amor), por meio de ensinamentos suficientes para "formar" uma pessoa.
2. O Ciclope em "Odisséia" e "Ulysses": no capítulo "The Citizen" da obra de James Joyce, há um irlandês nacionalista que é uma alusão ao ciclope do poema homérico. Bloom entra num pub com os amigos, e se depara com ele com este Cidadão, que é inflexível em suas opiniões. Eis a metáfora: ter só 1 pensamento é como ter só 1 olho. Ele diminui Bloom por ele ser um irlandês criado como judeu.
3. Análise e Perspectiva da Escolha Racional e Processo Decisório no Canto XII: os episódios das Sereias (compromisso prévio) e de Cila e Caribde (não avisar a tripulação dos riscos da viagem, para evitar deserção).

Guia de apresentação do projeto Estudos Humanistas

Convite e Guia Explicativo

Projeto Estudos Humanistas


Idealizadores:

Kaio Felipe Mendes de Oliveira Santos

Luiz Fernando dos Santos Roriz

Mateus Lôbo Aquino de Moura e Silva

Rodrigo Scherer Palácio

Saulo Maia Said

Thiago Noronha Gardin


Agosto de 2011


Este guia foi criado especialmente para você(s), interessado(s) em ingressar no projeto de Estudos Humanistas. Nosso intuito é facilitar a compreensão do projeto e das atividades desenvolvidas.

- Apresentação

O objetivo do projeto Estudos Humanistas é levar a leitura bem como o hábito de ler para todos aqueles que desejam complementar sua formação cultural humanística e, portanto, ser cada vez mais agente produtor e reprodutor de cultura. Sua intenção é prover para a comunidade acadêmica e civil o acesso a diversas formas de cultura, bem como incentivar o autodidatismo e a reflexão individual, julgadas como sendo de suma importância para a formação do ser humano enquanto cidadão e membro da sociedade.

Em outras palavras, o projeto se vê como uma forma de criar uma cultura de excelência acadêmica em seus participantes, além de buscar um ambiente mais propício ao desenvolvimento humano na universidade. O resgate do ideal educacional das artes liberais (educação clássica) é um dos propósitos dos Estudos Humanistas, visando a permitir o florescimento do potencial humano, colocando o indivíduo em contato direto com a tradição filosófica, científica e artística.

O projeto Estudos Humanistas foi aprovado no Decanato de Extensão (DEX) em 2010 e reconhecido na Câmara de Extensão da UnB como sendo um meio de estimular atividades acadêmicas dentro e fora da universidade, integrando assim, ensino, pesquisa e extensão.

- História

O projeto Estudos Humanistas nasceu no início de 2010 e é uma iniciativa de estudantes de diversos cursos da Universidade de Brasília, tais como Ciência Política, História e Administração. A intenção inicial era a de levar a cultura humanística para a comunidade acadêmica, idéia que sofreu maturação e transformou-se no objetivo de inspirar autodidatismo em todas as vertentes possíveis da sociedade que o grupo conseguisse alcançar. A primeira atividade desenvolvida pelo projeto foram os colóquios, que são reuniões dos estudantes para debater e dialogar sobre obras da literatura universal. Posteriormente, os colóquios passaram a ser organizados em ciclos, cada ciclo tem a duração de um mês e um tema específico. É importante ressaltar o fato de que somos, antes de tudo, entusiastas da cultura, portanto não excluímos ou desprezamos nenhuma forma de expressão da mesma. Aliás, esta é a razão dos ciclos terem os mais diversos temas que abarcam desde literatura japonesa até teoria econômica.

Paralelamente aos colóquios começaram a ser desenvolvidos reuniões chamadas de Grupo de Estudos Humanistas (GEH), que, diferentemente daqueles, são reuniões à comunidade acadêmica (apesar de abertas à comunidade civil) para discutir obras que complementam o ensino dos mais diversos cursos. É importante ressaltar que o projeto Estudos Humanistas, é, portanto muito jovem e ainda vive um processo constante de reformulação e evolução.

Ao leitor deste documento convidamos orgulhosamente a tomar parte do desenvolvimento e do sucesso da iniciativa do projeto. É importante saber que os obstáculos são muitos, mas que a recompensa é maior: Enaltecer a importância da contribuição de cada indivíduo para a formação do mundo atual, oferecendo um espaço onde todos podem acessar cultura e produzi-la no mesmo grau de intensidade.

- Atividades.

O projeto de Estudos Humanistas, como já dito, está em pleno processo de mudança, a seguir há uma lista das atividades que desenvolvemos durante nosso primeiro ano de vida bem como das atividades que planejamos desenvolver em 2011, tudo, no total, constitui seis frentes de atuação organizadas e postas em prática pelos extensionistas e membros da iniciativa humanista.

- 1ª Frente: COLÓQUIOS

Os colóquios são reuniões informais onde acontece a exposição e a discussão de uma obra da literatura ou de ciências humanas. Como dito anteriormente, durante o ano (10 meses letivos), são organizados 10 ciclos temáticos (como ciclo de cultura americana, ciclo de estudos marxistas, ciclo de cultura alemã, ciclo de ficção científica, etc). Cada ciclo possui a duração de um mês e são feitos 4 colóquios por mês, um por semana, cada um contemplando uma obra diferente. Porém, excepcionalmente há colóquios sobre temas não necessariamente ligados ao tema do mês.

O colóquio possui dois momentos: a exposição da obra e o debate e discussão. É importante ressaltar que, nos colóquios (abertos a quem quiser participar) a leitura não é obrigatória. Cabe aos extensionistas a leitura e a exposição de cada livro ou aspecto cultural para, no segundo momento, discuti-la abertamente com contribuição de todos. Desta forma o objetivo do colóquio é fazer com que a pessoa que o freqüenta tenha um primeiro contato com a obra para que se interesse e a busque depois. Esta busca também é facilitada pelo projeto Estudos Humanistas, fornecemos meios de acessar as obras seja por Xerox, por empréstimos da nossa biblioteca ou por computador.

Os colóquios acontecem no Sebinho (CLN 406, na Asa Norte), às segundas feiras, todos os meses (exceto nas férias), às 20h, onde acreditamos usufruir de maior disponibilidade das pessoas.

- 2ª Frente: GRUPO DE ESTUDOS

O grupo de estudos é uma atividade focada na vertente do ensino (do tripé ensino, pesquisa, extensão), assim procuramos oferecer a discussão e a exposição de obras que complementem a formação de diversos cursos da Universidade de Brasília. Apesar de ser aberto a quem quiser participar, o grupo de estudos exige a leitura obrigatória de seus participantes, desta forma, ainda que não extensionistas, aquele que se dispõe a freqüentar o GEH deve procurar a obra com antecedência. Ressaltamos que o projeto Estudos Humanistas faz de tudo para fornecer acesso às obras, tendo uma pasta exclusiva na Xerox da FA e um blog (http://estudoshumanistas.blogspot.com) bem como um grupo de e-mails onde são fornecidas traduções ou versões das obras a ser analisadas.

O grupo de estudos acontece sempre em uma sexta-feira, na FA durante o período da manhã. A presença dos extensionistas é obrigatória, na medida em que exige um comprometimento maior.

O GEH, assim como o colóquio, também possui exposição e debate, mas por ter um enfoque mais acadêmico a exposição costuma ser mais extensa e, apesar de poder ser interrompida a qualquer hora por qualquer um, costuma haver mais dúvidas e questionamento a serem sanados que um debate propriamente dito (mas a discussão é sempre incentivada e aberta). Além disso, cada extensionista deverá desenvolver uma pesquisa individual sobre algum tema relacionado com a obra discutida que lhe interesse; na última reunião sobre o livro discutido, cada um apresentará suas pesquisas.

- 3ª Frente: EVENTOS

O projeto Estudos Humanistas se empenha em produzir, sempre que possível, eventos que contribuam de alguma forma para os temas discutidos pelo grupo de estudos ou para complementar a formação acadêmica. Estes eventos podem ser traduzidos como palestras ou mesas de Debates. Procura-se convidar membros da comunidade para tratarem os temas de uma forma mais legítima (já que são pessoas especializadas, não necessariamente pela academia).

Em 2010 o projeto Estudos Humanistas produziu as palestras: “A Teoria da Justiça em John Rawls e Robert Nozick”; “Ética e Estética em O Retrato de Dorian Gray” e “Os Clássicos como Base Teórica Permanente da Moderna Investigação Social”. Neste ano, já ocorreu uma sobre “Arte e Política na Tragédia Grega”, em agosto o tema será “O Liberalismo Antigo e Moderno” e pretendemos realizar mais uma até o fim do ano.

Os eventos normalmente tomam parte no auditório Joaquim Nabuco da F.A, na universidade de Brasília e são organizados exclusivamente pelos extensionistas do projeto e aberto a todos os públicos.

- 4ª Frente: ESCOLAS

Dentro desta frente o projeto Estudos Humanistas se disponibiliza a preparar um curso de exposição e discussão de obras literárias presentes no PAS, a serem trabalhadas em escolas públicas de 2º grau. Neste ano, nosso curso abarcou o colégio de ensino médio CEM 02 Gama, onde ocorreram diversas aulas a alunos inscritos voluntariamente sobre O Discurso sobre a Servidão Voluntária, de La Boétie (para os alunos de 1º ano), e O Crepúsculo dos Ídolos, de Nietzsche (para os de 3º ano). A abordagem segue a mesma fórmula de sempre: exposição e discussão, além de exercícios que caíram nas provas PAS, no intuito de dar espaço para a reflexão dos próprios alunos.

- 5ª Frente: REVISTA

Esta atividade terá início no 2º semestre de 2011 e busca estimular e desenvolver as capacidades dos extensionistas de redação, bem como abrir um espaço para reflexão dentro da comunidade civil. Basicamente os extensionistas passarão a produzir artigos periódicos sobre os ciclos, temas, etc. Bem como os freqüentadores membros da comunidade civil terão espaço para publicação de textos e orientação (se necessária) para uma espécie de produção acadêmica fora da academia. Ambicionamos buscar produções tanto das escolas quanto dos freqüentadores dos colóquios e membros do clube do livro. A revista terá uma edição semestral e cogita-se, atualmente, lançá-la em formato eletrônico – e, se possível, impresso – em parceria ou não com algum departamento da universidade de Brasília.

- OUTRAS ATIVIDADES

Reuniões administrativas: ocorrem ocasionalmente, a fim de obter o balanço das atividades e avaliar o que funcionou e o que não funcionou, além de contemplar a re-divisão de tarefas, alocação de recursos e outras decisões administrativas.

- TAREFAS:

1- COLÓQUIOS

- COORDENADOR

Fica responsável por decidir o local, a hora e o formato dos colóquios, bem como de divulgá-los. O coordenador é responsável por disponibilizar as obras de cada ciclo seja por meio de Xerox, computador ou empréstimos.

- EXTENSIONISTAS.

Todos os extensionistas deverão preparar um colóquio pelo menos 1 vez por semestre. Dessa forma há um rodízio que se reinicia durante o ano todo. Desta forma a leitura dos colóquios é obrigatória apenas uma vez por mês aos extensionistas (que é claro, são livres para ler todas as obras se assim desejarem). É opção pessoal ir ou não nos outros colóquios, mas é claro que o projeto Estudos Humanistas incentiva a participação de todos, uma vez que é muito enriquecedor.

2- GRUPO DE ESTUDOS

- COORDENADOR/APRESENTADOR

Esta pessoa é responsável por preparar a exposição, a mediação e todas as outras tarefas atribuídas ao coordenador do colóquio.

- EXTENSIONISTAS

Têm a obrigação de comparecer (mediante à falta na freqüência do DEX) e de fazer a leitura da obra.

3- EVENTOS

- ORGANIZADOR

Dois extensionistas são diretamente responsáveis pela organização dos eventos. É basicamente uma questão de logística, envolvendo apenas a reserva de local (normalmente no auditório Joaquim Nabuco na FA da Universidade de Brasília), o convite aos palestrantes bem como o fornecimento de material para que a preparação dos palestrantes possa ser feita e a (mais importante) cobrança para o cumprimento de datas e prazos. Por último, cabe ao organizador preparar e xerocar um guia da palestra com os principais pontos a serem abordados pelos palestrantes ou dentro do tema escolhido.

- EXTENSIONISTAS

Divulgar como puder e comparecer ao evento.

4- ESCOLAS

- COORDENADOR

Organiza o rodízio (quais extensionistas irão) e faz a mediação entre o projeto de Estudos Humanistas e as escolas (atualmente o CEM 02 Gama). Bem como é responsável por qualquer problema envolvendo esta atividade.

- EXTENSIONISTAS

Pelo menos uma vez por semestre o extensionista deverá particpar do mini-curso na escola em questão. Ao extensionista será dada a liberdade de acrescentar itens ao modelo de aula bem como retirá-los, além disso o formato da aula (expositiva, debate, mesa redonda) fica a critério do extensionista.

5- REVISTA

- COORDENADOR

Deve produzir a revista, obter seu layout, selecionar os textos, bem como buscá-los nas outras frentes (nas escolas ou no clube do livro, por exemplo), cuidar da parte burocrática (ISBN, p.ex.), convidar professores para serem pareceristas etc.

- EXTENSIONISTAS

A produção de um texto todo o fim de semestre (dois por ano), este texto poderá ser: Resenha de um livro ou filme, artigo literário, conto, poema, artigo científico, análise de fatos e/ou divulgação de eventos.

6- DEMAIS TAREFAS

- TESOURARIA: normalmente fica com um extensionista bolsista que deverá controlar o pagamento de cartazes e Xerox, bem como coletar a doação mensal dos bolsistas atuais.

- COORDENADOR DE EXTENSÃO: professor responsável por legitimar a apresentação do grupo de estudos bem como auxiliar a preparação de todas as exposições.

- EXTENSIONISTAS COMO UM TODO: Devem comparecer as reuniões administrativas (onde haverá sempre o novo rodízio de tarefas) bem como comparecer à reunião de planejamento que acontece em janeiro onde é definido o calendário dos ciclos e obras do grupo de estudos a serem lidas durante o ano. Também devem prestar contas ao tesoureiro caso utilizem a verba do grupo - isso significa notas fiscais e afins. Além disso, ajudar na boa imagem e divulgação do projeto, assim como na seleção de novos membros, o que vem a ser nosso último tópico.


Como já deu para perceber, o projeto de Estudos Humanistas é ambicioso. Entendemos que é com o tempo que conseguiremos nos organizar de forma cada vez melhor (melhor que as proposições acima, inclusive) e colocaremos em prática nossas vastas e várias idéias. É com muito orgulho que convidamos você a se juntar a esta empreitada e concentrar seus esforços para construir uma formação humana cada vez melhor de nossa sociedade. Sentimos que é nossa responsabilidade fornecer pelo menos o acesso à cultura humanística tão rica e benéfica a tantos outros no passado.

Além de formar-se culturalmente, o extensionista de Estudos Humanistas entra numa empreitada ética onde a crença na capacidade de cada um é fundamental, todos são importantes e todos tem algo a acrescentar, diferentemente e cada um a seu tempo.

Grande Abraço e obrigado pelo tempo!

Atenciosamente,

Estudos Humanistas.